Jornal do Brasil
A defesa do sistema parlamentarista e a autocrítica feitas pelo PSDB em seu programa eleitoral gratuito na televisão na noite de quinta-feira (17) causou não apenas divisão interna no partido, mas perplexidade entre o próprios tucanos. De acordo com as reclamações dos parlamentares da base governistas – os peessedebistas ocupam quatro ministérios de Michel Temer (PMDB) -, a elaboração do programa não aconteceu sob consenso.
O presidente interino da legenda, Tasso Jeiressati, deu, quase que isoladamente, a linha editorial da programação. Tal fato aumentou a cisão partidária, o que, segundo alguns tucanos, poderia causar um revés no futuro de Aécio Neves na liderança nacional da sigla. Ele está licenciado devido às denúncias contra ele após a gravação de conversa com Joesley Batista, da JBS. Já há os que cogitam um retorno dele ao comando partidário. O programa expõe que o PSDB não defenderá o indefensável, sem referir-se especificamente ao mineiro ou a qualquer outro nome diretamente.
Outra crítica que bateu em cheio na base de apoio à administração Temer foi o fato de o programa afirmar que é contra o fisiologismo, uma troca de favores, um toma lá dá cá, em alusão ao que ocorre atualmente.
A defesa contra o discurso de ódio e rancor que ocorre “no Congresso Nacional e no país”, contudo, parece não ter sido coerente com o clima bélico que a peça televisiva provocou, ainda mais, internamente no PSDB.
A linha adotada seguiu causando estragos e podendo fazer crescer o isolamento dos e entre os tucanos. Segundo o que foi apresentado na televisão, o modelo político em atuação ainda “é o mesmo desde o fim da ditadura” e é necessário “mudar a maneira como se governa”. No programa, o PSDB alega que o atual modelo é o de “presidencialismo de cooptação” e que os apoios às ações são cobrados com um preço altíssimo.
O ministro tucano das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, sentiu-se tão constrangido e contrariado que, ainda durante a exibição do programa, que durou dez minutos, foi expressar-se nas redes sociais. Ele disse ter 30 anos de vida parlamentar e nunca recebeu nem pediu vantagens para apoiar qualquer agenda política. Para ele, a forma como a peça foi preparada é politicamente irresponsável para diluir as culpas pela degradação institucional.
O ministro da Secretaria de Governo, o também tucano Antonio Imbassahy, declarou que “a linha adotada no programa ofende fortemente o PSDB, colocando o partido em uma posição extremamente ruim e desconfortável, como se fosse o culpado por todos os problemas, inclusive aqueles criados por governos do PT, dos quais foi oposição”.
O senador Tasso Jereissati defendeu-se, alegando que as críticas são um movimento para tirá-lo da presidência. Ele chegou a telefonar para Temer com o intuito de dar uma explicação de que não era uma crítica ao peemedebista. Ele argumentara que existe a necessidade de o PSDB estar à frente nas mudanças que o país precisa e que o programa fez uma defesa do parlamentarismo e mostrou que o partido é contra ao que denomina “falência do sistema presidencialista”.
Jereissati ganhou, em sua defesa, o senador Ricardo Ferraço (ES), que afirmou ter a peça mostrado “a vida como ela é”. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi outro que analisou positivamente o programa. “Nessa nova sociedade, mentiu, morreu. Tem que dizer as coisas. Tem que dizer com sinceridade: acredito, não acredito; penso, não penso; estou errado, errei”.
Ao cabo, embora garanta que tenha que pensar no Brasil, o PSDB parece pensar mais em si próprio e ainda não encontrou um discurso e uma linha que o retire do passado. O partido quer voltar ao seu manifesto de criação, de 1988, fala do Plano Real, do Bolsa Escola, dos medicamento genéricos e da Lei de Responsabilidade Fiscal; tudo tentando conectar as pessoas. Mas não consegue fazer o dever de casa e conectar-se internamente.