Lucas Batulevicios,
23 anos; Lucas da Silva Costa, 19 anos; Ana Karoline, 8 anos; Leonilzio Nunes
dos Santos, 36 anos; Leonid Augusto Oliveira, 18 anos; Edvaldo Monteiro da
Silva, 33 anos; e tantos outros jovens, estudantes, de classe média alta, da
periferia, pais de família e trabalhadores não tiveram escolha. Encerraram o
ciclo da vida assassinados em menos de uma semana. As mortes por armas de fogo
ocorreram em situações adversas. Lucas Batulevicios levou um tiro enquanto
dirigia o próprio veículo na avenida Centenário, bairro do Bengui. Lucas da
Silva seguia para um projeto comunitário da universidade. Ana brincava na
festinha de aniversário do primo de um ano, no conjunto Julia Seffer. Leonid
apenas pedalava a bicicleta na avenida Marquês de Herval e Edvaldo descansava
em casa.
Nenhuma
das vítimas aparentava ser próxima nem ter parentes em comum. Quem sabe nunca
se viram e tampouco traçaram planos semelhantes para a vida. Entretanto, todas
foram penalizadas pela violência sem controle que domina Belém e Região
Metropolitana. Há casos como o do eletricista Luan Barros, baleado anteontem,
no abdome, dentro do ônibus Tapanã 2 Ver-o-Peso, que luta entre a vida e a
morte no Hospital Metropolitano. O crime ocorreu em plena luz do dia. Um ladrão
armado entrou no coletivo, obrigou o motorista a desviar a rota, saqueou os
pertences das vítimas e a renda do cobrador. Segundo testemunhas, Luan teria se
recusado a entregar o cordão e foi baleado.
“A
segurança aqui em Belém está muito complicada. Está demais. Eu votei no
governador atual (Simão Jatene-PSDB), mas se fosse hoje não votava. Trabalho em
Belém, mas voto em Ananindeua. E a gente só se decepciona com esses prefeitos.
A gente não vê mais Zenaldo (Coutinho, prefeito de Belém), governador nem
Pioneiro (prefeito de Ananindeua). Nem ouve falar nesses caras’’, reclama o
taxista que trabalha na avenida Centenário, próximo ao local onde o estudante
universitário Lucas Batulevicios foi assassinado, na noite de segunda-feira,
25.
REFÉNS DO MEDO
REFÉNS DO MEDO
No
peito, o taxista, que pede para não ser identificado, carrega a marca da
lembrança de uma noite que nunca será esquecida. Em 8 de fevereiro, por volta
das 2h30 da madrugada de domingo, o trabalhador trafegava pela Augusto Montenegro
quando reduziu a velocidade para três passageiros. Os rapazes entraram no
veículo e minutos depois anunciaram o assalto.
Entre
o tudo ou nada, o trabalhador arriscou. Quando o carro parou no sinal da
avenida João Paulo II com a Doutor Freitas, ele abriu a porta do carona e saiu
correndo. O ladrão que estava no banco traseiro saiu do veículo e disparou três
tiros. Um deles acertou a parte superior do peito do trabalhador.
“Um rapaz da pizzaria me socorreu e me levou para o Hospital da 14 de Março. Passei por duas cirurgias. Fiquei sem trabalhar. Depois voltei todo enfaixado, cheio de pontos. A gente tem que correr atrás do pão de cada dia. Esse foi o terceiro assalto que sofri, mas nenhum dos dois teve o nível desse”, conta.
“Um rapaz da pizzaria me socorreu e me levou para o Hospital da 14 de Março. Passei por duas cirurgias. Fiquei sem trabalhar. Depois voltei todo enfaixado, cheio de pontos. A gente tem que correr atrás do pão de cada dia. Esse foi o terceiro assalto que sofri, mas nenhum dos dois teve o nível desse”, conta.
“Eu
vou ficar refém disso até quando?” é a pergunta sem resposta que não sai da
cabeça da comerciante Catrim Sharif, 33. O comércio localizado na travessa São
Pedro, bairro da Águas Lindas, em Ananindeua, é todo gradeado. Não há acordo. O
atendimento só é feito assim. Mesmo com as grades, Catrim contabiliza cinco
assaltos.
“A
gente até se afasta da grade, mas não tem para onde correr. Éramos assaltados
de cinco em cinco dias. Pegaram minha filha, a imprensaram na grade. Isso me
revoltou. Chamei os policias, conversei com eles e reduziu mais. O último foi
em dezembro do ano passado”, conta. A comerciante sugere medidas para redução
da criminalidade. “O que falta é uma área de lazer aqui para ocupar a mente
desses jovens e para eles não passarem o tempo todo sem fazer nada. Pode ver
quantos jovens estão na marginalidade. Quando se dá excesso de proteção, então
você dá asas.”
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