Por: Paulo
Henrique Amorin
A
prisão de Marin é um retrato do Brasil: ele foi obrigado a viajar para ser
preso.
Marin
é, ou era, um daqueles intocáveis no país. Apesar da ficha carregada de
delinquências, ele jamais foi importunado pela justiça, pela polícia e, muito
menos, pela imprensa.
Isso
com 83 anos.
Fosse
mais comedido, ou menos ávido por propinas e atividades, Marin teria chegado ao
túmulo bem longe de coisas desagradáveis como cadeia.
Prender
Dirceu e Genoíno é fácil no Brasil destes tempos. Mas Marin pertence a outra
casta: a do 1%. Isso significa imunidade.
Por
exemplo: ele só virou notícia policial na Globo por causa dos investigadores
americanos que descobriram, com trabalho duro, a fábrica de propinas que ele
montou na CBF.
A
CBF sempre foi parceira da Globo na rapinagem do futebol brasileiro. Enquanto
ao longo dos anos ambas acumularam fortunas fabulosas com o futebol brasileiro,
este, em si, virou uma ruína.
Estádios
vazios e precários, times incapazes de segurar os melhores jogadores e por aí
vai: não pode funcionar uma parceria em que alguém ganha muito e o outro só
perde.
É o
jeito Globo de operar.
Também
no cinema é o mesmo quadro. A Globofilmes se dá bem e os outros – produtores,
diretores, atores – vivem de migalhas.
O
caso Marin oferece também uma chance de confrontar o trabalho policial entre os
Estados Unidos e o Brasil.
Os
investigadores americanos não fizeram, ao contrário do que é tão comum na
Polícia Federal, coisas como basear ações em recortes de jornais e revistas.
É
patético ver juízes e policiais acusarem alguém e, impávidos, citarem uma
reportagem da Veja, ou da Folha, como se a mídia não tivesse fortíssimos
interesses por trás de denúncias frequentemente sem nenhum fundamento.
No
Mensalão, um juiz começou um magnífico pronunciamento dizendo que não havia um
dia que não abrisse os jornais e encontrasse um escândalo.
A
quem apelar?
Mais
arguto, ele teria questionado a obsessão da mídia em publicar escândalos contra
o PT. Mas não: o juiz tratou a mídia como se ela também pertencesse ao STF.
(Recentemente,
Marta Suplicy fez o mesmo ao explicar por que saiu do PT. Citou a mídia.)
No
episódio Marin, os policiais dos Estados Unidos suaram. Não entraram no Google
para ver o que a imprensa tinha a falar de Marin.
Uma
das cenas mais marcantes da Operação Lava Jato foi uma em que um réu perguntou
respeitosamente a Moro se fazia sentido ele estar preso fazia cinco meses
quando a grande evidência que pesava contra ele era uma reportagem da Veja.
Como
disse Mino Carta, a Veja mente todos os dias. Mas a Justiça brasileira enxerga
nela uma fonte de informações acima de qualquer suspeita.
O
caso Marin oferece muitas reflexões. A principal delas é o caráter hipócrita e
partidário do combate à corrupção promovido pelo 1%, ao qual interessa apenas a
manutenção de privilégios e mamatas.
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